Tatiane Vilar - Ionete Pereira - Joice Lucena - Nathali Britto - Helen de Oliveira -
Processo
Civilizador – Norbert Elias
O que seria
este processo civilizador? Segundo o autor, “uma mudança na conduta e
sentimentos humanos rumo a uma direção muito específica”. Essa “direção
específica” seria a da racionalização (apesar deste movimento não ser
exatamente racional) da atividade humana, tida como um conjunto de
comportamentos - tanto introjetados quanto exteriorizados socialmente pelos
indivíduos - numa espécie de mútuo controle da hierarquia dos sistemas sociais,
utilizando os conceitos de Talcott Parsons.
Se, em um primeiro momento os indivíduos tinham
um controle demasiadamente externo sobre as suas pulsões, o autocontrole
individual, interno, torna-se mais diferenciado, complexo e estável com as
modificações no tecido social, em que há uma maior interdependência na
sociedade e uma maior diferenciação social.
Cada vez mais os indivíduos tem que reprimir a
si mesmo e a sua espontaneidade em prol de um comportamento mais racional,
civilizado, de moderação das paixões. Anteriormente, o autocontrole individual
(superego) era instilado em relação direta, ou seja, pelo uso da violência,
força física ou algo que o valha.
Desde criança somos treinados para agir com
autocontrole, o que aciona mecanismos de sublimação ou substituição cada vez
mais intensamente. Para Elias, “o que determina a natureza e o grau desses
surtos civilizadores é sempre a extensão das interdependências, o nível da
divisão das funções e a estrutura interna das próprias funções”. Destarte, a
tendência é, com o fenômeno que hoje conhecemos por globalização, aumentar o
grau de autocontrole e suas respectivas formas.
O autor coloca a diminuição dos contrastes entre
as classes mais altas e as mais baixas no sentido de um comportamento mais
uniforme. Os modos das classes altas se difundem como espelho para as classes
mais baixas, não obstante as últimas terem um mecanismo de autocontrole menos
limitado, ou seja, um comportamento mais próximo do que chama-se de “selvagem”.
Conforme apontado, o aumento do autocontrole das classes mais baixas, cresce
progressivamente com o significativo aumento de sua importância na rede de
funções da sociedade. O aumento da dependência entre grupos segue-se a uma
homogeneização de comportamentos.
Em outra parte do texto, que toca a
Transformação de Guerreiros em Artesãos, Elias demonstra como a ascensão da
burguesia fez com que os hábitos da nobreza fossem ressaltados, em parte como
delimitador da distinção social entre estas duas castas, e a modelação ímpar da
conduta social elaborada por esta classe. Ele enfatiza o fato de nesta época
específica, ter havido uma especialização desta classe em sofisticar seus
modos, com a proliferação de manuais de conduta (muito comuns hoje em dia), que
seriam manifestações deste processo. Um dos elementos propulsores disto foi a
ascendência da burguesia e a consequente necessidade de distinção entre os dois
estratos sociais.
Se, antes, o universo se restringiam aos
ambientes em que viviam, sendo mais ou menos autossuficientes, a coexistência
de um grande número de pessoas interligadas exigia um controle mais rigoroso da
conduta social. A “nobreza belicosa” foi, durante o processo civilizador,
substituída por uma “nobreza domada”.
Como a força física não mais era vista com bons
olhos na corte, as relações sociais, quando em situação de conflito, passaram a
exigir um grau cada vez maior de sutileza na administração das amizades e
inimizades. Havia grande competição por prestígio e pelo favor real, dado que
os cortesãos não possuíam bens de produção, assim “a reflexão contínua, a
capacidade de previsão, o cálculo, o autocontrole (...) tornaram-se
indispensáveis para o sucesso social”.
Esta necessidade de prever os acontecimentos
levou a uma certa empatia, a um “conhecer o outro”, ou psicologização: o estudo
do outro com profundidade e consciência. Este indivíduo aludido por Elias é
sempre o indivíduo com relação aos outros, num determinada teia de relações
sociais.
O estudo dos outros servia para pensar o modus
operandi - o real funcionamento - da vivência, dos comportamentos, de uma forma
mais racional, calculada, prevendo efeitos e consequências em cada sutil ponto
das relações.
Para concluir, e para não cair em tautologismos
ou repetições demasiadas, no que cerne à “Vergonha e Repugnância”, Elias coloca
como estes conceitos são tomados como um outro lado da mesma transformação na
estrutura da personalidade social - junto da racionalização da social - também
não sendo, evidentemente, expressos com gestos violentos, mas por sanções
sociais externas, que são interiorizadas pelos indivíduos. “Os modos interiores
crescem na mesma medida que diminuem os exteriores”.
--
Igor Rafael
Fonte: http://democraciaeliberdade.blogspot.com.br/2010/03/resenha-o-processo-civilizador-uma.html
O livro O processo civilizador: uma história dos costumes vol. 1, de Norbert Elias, teve sua primeira
edição em 1939, na Suíça. Exilado nos EUA, depois de muitos anos o livro ganha
uma edição inglesa em 1978 e apenas em 1990 a primeira edição em português.
Chega ao Brasil, portanto, junto com uma nova onda na historiografiade tratar
da História dos Costumes ou da vida privada. Contudo, deve-se destacar que o
livro de Elias é anterior a esta espécie de moda na história, e contemporâneo
de historiadores como Fernand Braudel.
Este
livro de Norbert Elias trata especificamente da mudança nos costumes da
sociedade européia que se processa entre os séculos XIII e o século XIX. Este
período, como ele destaca, desenvolve-se aquilo que ficou conhecido como
sociedade de corte. O final do período estudado, já no século XIX, tem o início
da sociedade burguesa, que conhecerá ao longo do século XX um novo processo de
mudança nos costumes. Mas além de tratar da história desta mudança, Elias
estuda o processo por meio do qual as mudanças se processam.
[...]
Estas
mudanças nos mecanismos de pressão, contudo, recorrem aos mesmos sentimentos (embaraço,
medo, vergonha e nojo), que as utilizadas no passado. Causar nas crianças medo
frente às mudanças climáticas e inculcar o nojo a práticas como jogar esgoto
nos rios ou poluição no ar, é um meio para direcionar as gerações atuais aos
fins "sustentáveis" que procuramos obter. Estes sentimentos acabam se
disseminando por toda a sociedade e são poderosos mecanismos de mudança e
transformação social. Para compreendê-los, um bom caminho é estudar o passado
na companhia de Norbert Elias e seu "Processo Civilizatório".
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Emerson Santos - Jonathas Rodrigues
Esse é um estudo da obra O Processo Civilizador de Norbert Elias (1897 - 1990), no qual o autor analisa a história dos costumes a partir da formação do Estado Moderno e suas influências sobre a civilização.Nessa, que é reconhecida como sua maior obra, Elias leva-nos a pensar no que aconteceria se um homem da sociedade contemporânea fosse, de repente, transportado para uma época remota de sua própria sociedade.
É possível que encontrasse um modo de vida muito diferente do seu, alguns hábitos e costumes lhe seriam atraentes, convenientes e aceitáveis do seu ponto de vista, enquanto outros seriam inadequados.
Estaria diante de uma sociedade que, para ele, não seria civilizada. No Processo Civilizador, Elias procura analisar questões fundamentais como quais os motivos e de que forma ocorreu essa mudança? Nesse texto apresentaremos a questão presente na obra na qual não há uma intenção deliberada de cada sujeito que produz a civilização, mas são os atos dos sujeitos singulares agregados uns aos outros que a tornam universal e produzem ou não a civilização.
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